quinta-feira, 11 de março de 2010

Quase lá!



Hoje fizemos uma pausa para cuidar do estúdio 12 dólares. Amanhã voltamos à Flap para as 2 últimas mixagens.

Já estão prontas Meus fones, O bom mesmo é ser o mar, Um ponto singular, Teresa, Um rio só cai, Quando foi que a solidão aconteceu pra gente?, As invasões bárbaras e História geral.

Escutei no estúdio, no carro, no laptop, no Ipod e em casa. Amei o resultado. As músicas estão com cor, com sentimento, com personalidade. Refletem para o exterior o que eu trazia comigo no interior. O que mais posso querer delas?

Divertidíssimo foi acertar os últimos detalhes da participação da Manu Farenzena pelo Skype. A excelente vocalista da Wonkavision mandou muito bem nos vocais que gravou, e me mandou os arquivos pela rede, lá de Londres, onde mora. Manu é amiga de longa data, e estou muito feliz que esse disco tenha nos reaproximado.

Faz muitos anos desde minhas primeiras gravações em fita K7 em Brasília, ou meus experimentos com um portastudio que gravava em ZIP discs, já em São Paulo. Tanta coisa que a gente vai deixando e esquecendo pelo caminho... Estou realizado desde já por não ter negligenciado essa minha vontade de cantar essas músicas.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Vieja escuela


Então começou. Fabio Pinczowski no comando das mixagens no estúdio FLAP.

Hoje as duas primeiras já foram mixadas, O bom mesmo é ser o mar e Meus fones.

Estamos tentando resgatar o uso dos ouvidos na hora de mixar. Old school. Parece óbvio, mas hoje em dia ouve-se pouco, fala-se muito, e na hora de mixar tem gente que parece mais estar diagramando os sons no Pro Tools ou no Logic. Depois de um tempo, o hábito de ver as ondas sonoras na tela do computador, e o desenho meio Lego que se forma em cada música, começa a prejudicar a maneira como ouvimos o arranjo. E isso pode, perigosamente, afetar a maneira que a canção chegaria até vocês. Ou melhor, a maneira que ela não chegaria até vocês. Por isso, o que eu quero dizer com old school é passarmos tudo por uma mesa, compressores e equalizadores analógicos, procurando ao máximo não ter que recorrer sempre à vizualização no monitor. Dessa vez, de virtual, aproveitamos um plugin (um software) que emula um plate reverb via Pro Tools, mas foi só. O resto são válvulas e transistores colorindo o som.





Idealmente, também mandaríamos tudo no final para (ou de volta a) uma fita, um gravador de rolo, como a Studer da foto acima. Mas não tendo esse recurso dessa vez, pelo menos usamos um FATSO a mais no final de tudo, para dar uma esquentada no som. Ele é um compressor que simula o efeito que o processamento da fita traz ao som.




Então, o processo é analógico mas o material é digital. O approach é old school, mas o equipamento nem tanto.

As músicas já parecem um retrato de um feriado que acabou de passar. Se fossem fotografias, já estariam reveladas, ou no processo de revelação.

Sigo contente e grato, sei que minha essência está nelas.

Hoje foi um dia muito tranquilo, é a mixagem mais segura que participei, mais clara, sem segredos. Sem jogo ganho, mas sabendo o que estamos fazendo em campo.

sábado, 6 de março de 2010

Virando a página




Nada pareceu fluir tão fácil para esse disco como em janeiro.

Fevereiro foi um mês lento que passou depressa. Mas na verdade coincidiu com uma fase do processo que é naturalmente mais vagaroso, ou assim parece. A tal da lista com todos os itens a serem gravados foi sendo "ticada", linha por linha.

Editei todas as músicas. O que quero dizer com editar? É tirar sobrinhas, vazamentos, barulhinho de respiração e tosses entre takes de voz, tirar do arranjo uma ou outra coisa que ficou a mais. E também ocasionalmente afinar um ou outro trechinho de voz ou instrumento. Para quem não vive o dia-a-dia do estúdio, a idéia de afinar posteriormente qualquer elemento de uma canção parece meio alienígena. Mas se feito com cautela, economiza tempo e salva takes inteiros que, antes de tal tecnologia existir, talvez fossem descartados. Isso é bom ou ruim? Bom, o fato é que os anos 50 acabaram, e isso não é necessariamente ruim. A custo de muita pressão, e às vezes de sérios danos psicológicos, os artistas daquele período eram educados a fazer tudo de uma maneira incrivelmente bem lapidada, e em poucos takes (os estúdios eram infinitamente mais custosos). Nos anos 80 e 90, por outro lado, era comum uma perda de tempo e energia exorbitante, fazendo e refazendo no estúdio inúmeras linhas inúmeras vezes. Hoje gosto de acreditar que estamos começando a atingir um equilíbrio. No fim das contas, o que vale é a performance, a emoção e o momento único que está sendo captado ali. Se dentro desse momento único há a possibilidade de corrigir uma ou outra imperfeição, por que não? Desde que não soe falso, forçado, não vejo motivo para se ter pudor. Desde que seja a serviço da música, e não contra ou a favor do ego, vale bastante coisa - ou quase tudo.

As mixagens acontecerão a partir de segunda-feira, no estúdio Flap aqui em São Paulo. Estúdio legalzão, com muitos periféricos (compressores, equalizadores...) para mixarmos da maneira romântica, old-school. Até dá pra fazer recall, caso alguma mix saia "errada", mas a mix em si se torna uma performance. O engenheiro de mixagem será o Fabio, o maestro Pinczowski, o cara em quem mais confio pra tudo que diz respeito a som. Então é só relaxar, se alimentar direito e ouvir com carinho e sensibilidade.

Estou sentindo uma página virando na minha vida. Quase como aquele momento em que acaba a subida da montanha-russa. Tá dando um frio na barriga. Mas ao mesmo tempo tô pronto pra aproveitar o ventinho que tá chegando.