segunda-feira, 7 de maio de 2012

Mauro Motoki - BOM RETIRO


por Nathalia Birkholz

Mauro Motoki possui um vasto - e ótimo - currículo no mundo dos acordes, riffs e beats. São 15 anos como músico profissional, dez deles com o Ludov - banda de pop rock que o país inteiro conhece e que roda o Brasil com shows lotados. Ele ainda atua como produtor e músico da dupla de ska Peixoto & Maxado e de Miranda Kassin.

Mas como artista inquieto que é, o multiinstrumentista, compositor e produtor lança agora seu primeiro trabalho solo, chamado Bom Retiro. O título é uma homenagem ao bairro paulistano que abriga seu estúdio, o 12 dólares, onde o disco foi concebido. O sobrado acolhedor, com equipamentos de última geração é sua segunda casa. Lá Mauro já gravou e produziu artistas como Daniela Mercury, Marcelo Camelo, Kassin, Davi Moraes, entre outros, além de trilhas sonoras para a Disney. O endereço próximo a famosa Rua José Paulino também é cenário para ótimas festas da galera da música na capital paulista.

Mas Bom Retiro também remete ao estado de espírito em que o artista se encontrava durante o processo de composição. “Foi um retiro, num sentido espiritual. Uma busca mesmo. Procurei olhar pra dentro de mim para superar e entender uma história de separação”, desabafa. “O próximo é um disco de amor realizado. Casamento e tudo mais!", completa ele.

As faixas, introspectivas, passeiam por ritmos diversos. No menu do Bom Retiro, temos o flerte com o dôo-wop da música de abertura “Grandes Esperanças”, a psicodelia que de um bom fã de Wilco em “O Bom Mesmo é Ser O Mar”, a vibe roqueira de “Teresa” ou o desfecho a la Flaming Lips com a derradeira “História Geral”. Além das músicas, Motoki dá vazão à sua arte no encarte do disco, todo desenhado à mão, pelo próprio. Já o material sonoro foi condensado em dois formatos: pendrive e vinil de 12 polegadas.

Mauro agora dividirá a agitada agenda do Ludov e as gigs com Peixoto & Maxado e Miranda Kassin com as de seu projeto solo. No palco, assume violão e guitarra e juntam-se a ele: Jesus Sanchez (Los Pirata, André Abujamra) no baixo, Stian Olsen (Junior Mackenzie - Espanha, Beezewax - Noruega) na bateria, Rodrigo Brandão (Leela) na guitarra, Gustavo Garde (Seychelles) no violão, Henrique Villas-Boas (Fellas) no teclado e Mariane Claro (voz).

2012 promete ser um ano de muita estrada e renovação para Mauro Motoki.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Minha eterna gratidão: a estréia.

O fim de semana foi intenso e renovador.

Semanas atrás, ao saber que o lançamento no SESC havia sido adiado para o ano que vem, fiquei apreensivo, nervoso, frustrado, perdido. A banda vinha ensaiando há meses, e eu sabia que a energia que eu via crescendo nos ensaios não poderia se dissipar. Quando a minha empresária Fabiana Batistela acenou com a possibilidade de fazermos nossa estréia no palco do StudioSP, cruzei os dedos. Seria incrível! Aquele palco é minha casa há anos, tocando lá com a Miranda Kassin, com o Ludov, até mesmo com o Liga Leve. E dias antes do show, a querida Roberta Youssef, programadora da casa, confirmou que, por um milagre, a única data disponível para que conseguíssemos realizá-lo, era também a única data que havia sido cancelada de última hora por outro artista. Perfeito. A banda que fecharia a noite eram os amigos André Frateschi e sua Heroes. Mais que perfeito.

Na sexta-feira, mal consegui me alimentar direito. Só pensava na grande estréia. Que logo chegou.

O palco estava lindo, ornado com as bandeiras tibetanas que eu havia encomendado no Instituto Nyingma. Aproveito aqui para agradecer o empenho e o capricho do Fabox, técnico de som e cenografia. Com os olhares de tanta gente que me é querida me apoiando da platéia, subir ao palco foi fácil, foi natural.

E a partir daí, o mérito pelo que aconteceu lá em cima é dessa banda que escolhi, e que me acolheu. Stian Olsen, Jesus Sanchez, Rodrigo Brandão, Gustavo Garde, Henrique Villas Boas e Mariane Claro não poderiam ser mais diferentes uns dos outros, como músicos e como pessoas, mas formaram uma unidade segura cuja vibração se fez sentir em todos os presentes. Lá pela terceira música, me deu uma sensação incrível de que já éramos, os sete, uma banda. Já tínhamos uma cara, um corpo, e mais importante, uma alma.

O show transcorreu como num sonho, com o tempo se distorcendo com as emoções, e com as participações do Chuck e da Miranda coroando a noite.

Mas para eu explicar o que o seleto público de sexta passada representou pra mim, preciso contar antes o que veio depois, no domingo.

Minha mulher me levou para assistirmos "Viver sem tempos mortos", monólogo com Fernanda Montenegro, em sua última apresentação na cidade. O lindo teatro Raul Cortez lotado recebeu o texto incrível sobre a vida de Simone de Beauvoir com um ar de missa sagrada, ou de um discurso histórico. Mas ao final, nos agradecimentos, é que a maior atriz brasileira mostrou por que é quem é, por que movimenta a energia que movimenta. Após alguns minutos de ovação ininterrupta, com um gesto muito sutil de sua mão direita, Fernanda calou a platéia com delicadeza. Dedicou a peça à memória de seu finado companheiro Fernando Torres, que por 60 anos a acompanhou nos palcos e na vida. A sensação de 800 pessoas arrepiadas, em lágrimas ou em silêncio foi como um sopro gelado, interrompido em seguida por palmas ainda mais calorosas. Como um mestre samurai, a mulher deu dois passos para fora do foco de luz ao centro do palco, comunicando que aquelas palmas eram todas para o seu marido. E ao voltar, disse que "sem demagogia, o que torna possível uma grande peça é uma grande platéia". E arrematou: "a platéia é a família de um artista."

A platéia é a família de um artista. A platéia é a família de um artista.

Obrigado a todos que me apoiaram e me apoiam. Obrigado aos meus companheiros de Ludov. Obrigado especial à produtora executiva Iara Andrade.

Obrigado aos que formaram a platéia linda de sexta-feira, e aos que formarão minhas novas platéias. A platéia é a família de um artista.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Nossa estréia nos palcos!


DE GRAÇA, pontualmente às 22h!

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Reta final e reapresentando a banda

Já estamos na reta final dos ensaios!

Estamos tocando Wilco e John Lennon, e eu estou preparando uma sessão de voz e violão pro meio do show.

O show de lançamento será em dezembro agora.
Semana passada encontrei uma solução linda pro cenário. Mas isso é surpresa.

Desde o longínquo último post aqui, a formação da banda mudou um pouco, e ficou assim:

• Stian Olsen é nosso batera, galã norueguês de muita vibe. Conheci tocando com meu camarada Edu Filomeno (ex-baixista do Ludov) em Barcelona. Fala e vive o Brazilian Way fluentemente já.

• Jesus Sanchez é nosso baixista. Um dos caras que eu mais admiro na nossa cena, toca com Los Pirata, Pelico e Abujamra. Quando o vi tocando pela 1a vez com uma Fender VI sabia que tinha que rolar um som junto um dia.

• Henrique Villas-Boas é nosso pianista e arranjador vocal. Integrante do excelente grupo vocal Fellas, trouxe seu abrangente conhecimento musical e inabalável vibe do bem pra banda.

• Rodrigo Brandão é nosso guitarrista carioca. Popstar com o Leela, já conquistou vários troféus-joinha de sujeito mais legal da cena independente mundial.

• Gustavo Garde é nosso violonista. Grande cantor e frontman do Seychelles, vai se aventurar pela primeira vez na carreira de instrumentista. Versado na arte da sensibilidade e notório comentarista esportivo.

• Mariane Claro é nossa vocalista. Seu timbre adoça as músicas e seu sorriso garante leveza a todos os ensaios. Toca a escaleta endiabradamente.

terça-feira, 29 de março de 2011

Capa e a banda

Aos 45 do segundo tempo, resolvi fazer uma mudancinha.

A fabricação do vinil já está preparada, e estou no processo burocrático de gerar ISRCs (aqueles numerinhos que vêm ao lado dos títulos das faixas de um disco - o processo supostamente garante a distribuição correta de direitos), checar o layout da capa, do encarte e do rótulo da bolacha.

A mudança é da capa. Vinha tentando uma direção que explorava o "Bom Retiro" de maneira espiritual, e estava fazendo desenhos de divindades inventadas. Mas conversando com a produtora executiva do disco Iara Andrade, expus minha incapacidade de "linkar" o conceito da capa com a idéia e o clima geral do disco. Fizemos um brainstorm e chegamos a uma idéia que me agradou mais.

A capa continuará sendo um desenho meu, mas mais voltado para um auto-retrato, assim como esse disco foi uma bela olhada pra dentro, um mergulho no que eu era ao começar essas composições (o curioso é que hoje estou num momento radicalmente distinto).

Nesse meio tempo, comecei a montar a banda que vai levar essas canções para o público conferir ao vivo. O time ainda não está completo, mas tenho sido rígido no critério de ser gente do bem, gente que me faz querer ser bom. Que os poucos escolhidos até agora também sejam ótimos músicos é só uma feliz e providencial coincidência. Essas músicas são meu peito escancarado num período da minha vida, e preciso de gente de confiança e sensibilidade para traduzi-las para a nossa eventual platéia.

Namastê.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Lançamento




As coisas têm um tempo.

Uma caneta repousada sobre a mesa não está inerte. Se pudéssemos enxergar pelos olhos do universo, e víssemos a sucessão dos instantes sem estarmos imersos nela, veríamos a mesma caneta se transformando, se movimentando através do tempo. E isso lhe daria vida.

Claro, estamos presos à dimensão do tempo. E nossa angústia é seu filho primogênito. O tempo é o que nos permite ter expectativas, e ambições. É o que nos permite projetar no futuro nossa felicidade. Isso nos faz seres melhores, porque nos dá esperança. Mas também destrói. Destrói nossas relações com amigos, distorce a beleza dos objetos, porque esquecemos que o tempo é só mais uma dimensão.

Meu disco tem seu tempo. Procurei entender isso. Fiquei quase um ano sem lançá-lo, porque pela primeira vez na minha carreira de músico resolvi ter paciência. Porque a paciência traz perseverança e beleza. Fui cobrado, tanto de maneira carinhosa quanto de maneira grosseira, por não tê-lo lançado. Vivemos nessa era terrível onde tudo é fulgaz, onde tudo tem prazo de validade curto, onde o lance é ser esperto pra não deixar "a oportunidade passar". Porque "ninguém está ficando mais novo".

Eu não quero ficar mais novo. Eu não ligo de perder o próximo trem porque logo atrás vem outro.

Meu disco me chamou na virada do ano e me disse: você está pronto para continuar.

Vivi tudo o que a vida me reservou em 2010, e tenho certeza que não deixei nada escapar. Que fui íntegro. Vivi com amor e no amor.

E agora estou aqui voltando a esse disco querido: Mauro Motoki - Bom Retiro. Estou desenhando a capa e a contracapa, e o grande Alex Senna está me ajudando com a tipografia. A Iara Andrade me ajudando na produção executiva: orçamentos, custos, viabilização de idéias.

Vou fazer vinis e pendrives. Também estou fazendo uns mimos especiais pra quem comprar comigo, da minha mão, nos futuros shows.

É meu melhor trabalho até hoje. É o mais próximo que cheguei à minha alma pela música. Já tenho planos para um segundo disco ainda esse ano.

Minha gratidão a você que acreditou em mim. Esse disco é pra você.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

A ordem das músicas

Ouvi um milhão de vezes as músicas na ordem, pra finalmente mandá-las para a masterização no Estúdio El Rocha aqui em São Paulo.

Procurei mantê-las numa ordem coerente tanto para uma ouvida "a la CD" (ô coisa antiga), quanto para ouvir virando o disco, lado A e lado B (ô coisa antiga 2).

Essa coisa de colocar músicas em ordem mexe com um treco primordial (como estou eloquente hoje, Deus meu!). Porque é a mesma sensação de fazer uma fita ou um CD com suas músicas preferidas pra namoradinha adolescente, pensando em como cada música deve vir no momento certo para se fazer sentir com a intensidade desejada. Só que dessa vez, ao invés de namoradinha, você faz isso para uma platéia sem rosto. E ao invés de Patience do Guns e Sitting at the dock of the bay na versão do Pearl Jam, são suas próprias músicas. Medo.

Ficou assim:

Lado A
1. Grandes esperanças
2. Meus fones
3. O bom mesmo é ser o mar
4. Quando foi que a solidão aconteceu pra gente?
5. As invasões bárbaras

Lado B
6. Um rio só cai
7. Um ponto singular
8. Teresa
9. Imagens do Japão
10. História geral

quinta-feira, 11 de março de 2010

Quase lá!



Hoje fizemos uma pausa para cuidar do estúdio 12 dólares. Amanhã voltamos à Flap para as 2 últimas mixagens.

Já estão prontas Meus fones, O bom mesmo é ser o mar, Um ponto singular, Teresa, Um rio só cai, Quando foi que a solidão aconteceu pra gente?, As invasões bárbaras e História geral.

Escutei no estúdio, no carro, no laptop, no Ipod e em casa. Amei o resultado. As músicas estão com cor, com sentimento, com personalidade. Refletem para o exterior o que eu trazia comigo no interior. O que mais posso querer delas?

Divertidíssimo foi acertar os últimos detalhes da participação da Manu Farenzena pelo Skype. A excelente vocalista da Wonkavision mandou muito bem nos vocais que gravou, e me mandou os arquivos pela rede, lá de Londres, onde mora. Manu é amiga de longa data, e estou muito feliz que esse disco tenha nos reaproximado.

Faz muitos anos desde minhas primeiras gravações em fita K7 em Brasília, ou meus experimentos com um portastudio que gravava em ZIP discs, já em São Paulo. Tanta coisa que a gente vai deixando e esquecendo pelo caminho... Estou realizado desde já por não ter negligenciado essa minha vontade de cantar essas músicas.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Vieja escuela


Então começou. Fabio Pinczowski no comando das mixagens no estúdio FLAP.

Hoje as duas primeiras já foram mixadas, O bom mesmo é ser o mar e Meus fones.

Estamos tentando resgatar o uso dos ouvidos na hora de mixar. Old school. Parece óbvio, mas hoje em dia ouve-se pouco, fala-se muito, e na hora de mixar tem gente que parece mais estar diagramando os sons no Pro Tools ou no Logic. Depois de um tempo, o hábito de ver as ondas sonoras na tela do computador, e o desenho meio Lego que se forma em cada música, começa a prejudicar a maneira como ouvimos o arranjo. E isso pode, perigosamente, afetar a maneira que a canção chegaria até vocês. Ou melhor, a maneira que ela não chegaria até vocês. Por isso, o que eu quero dizer com old school é passarmos tudo por uma mesa, compressores e equalizadores analógicos, procurando ao máximo não ter que recorrer sempre à vizualização no monitor. Dessa vez, de virtual, aproveitamos um plugin (um software) que emula um plate reverb via Pro Tools, mas foi só. O resto são válvulas e transistores colorindo o som.





Idealmente, também mandaríamos tudo no final para (ou de volta a) uma fita, um gravador de rolo, como a Studer da foto acima. Mas não tendo esse recurso dessa vez, pelo menos usamos um FATSO a mais no final de tudo, para dar uma esquentada no som. Ele é um compressor que simula o efeito que o processamento da fita traz ao som.




Então, o processo é analógico mas o material é digital. O approach é old school, mas o equipamento nem tanto.

As músicas já parecem um retrato de um feriado que acabou de passar. Se fossem fotografias, já estariam reveladas, ou no processo de revelação.

Sigo contente e grato, sei que minha essência está nelas.

Hoje foi um dia muito tranquilo, é a mixagem mais segura que participei, mais clara, sem segredos. Sem jogo ganho, mas sabendo o que estamos fazendo em campo.

sábado, 6 de março de 2010

Virando a página




Nada pareceu fluir tão fácil para esse disco como em janeiro.

Fevereiro foi um mês lento que passou depressa. Mas na verdade coincidiu com uma fase do processo que é naturalmente mais vagaroso, ou assim parece. A tal da lista com todos os itens a serem gravados foi sendo "ticada", linha por linha.

Editei todas as músicas. O que quero dizer com editar? É tirar sobrinhas, vazamentos, barulhinho de respiração e tosses entre takes de voz, tirar do arranjo uma ou outra coisa que ficou a mais. E também ocasionalmente afinar um ou outro trechinho de voz ou instrumento. Para quem não vive o dia-a-dia do estúdio, a idéia de afinar posteriormente qualquer elemento de uma canção parece meio alienígena. Mas se feito com cautela, economiza tempo e salva takes inteiros que, antes de tal tecnologia existir, talvez fossem descartados. Isso é bom ou ruim? Bom, o fato é que os anos 50 acabaram, e isso não é necessariamente ruim. A custo de muita pressão, e às vezes de sérios danos psicológicos, os artistas daquele período eram educados a fazer tudo de uma maneira incrivelmente bem lapidada, e em poucos takes (os estúdios eram infinitamente mais custosos). Nos anos 80 e 90, por outro lado, era comum uma perda de tempo e energia exorbitante, fazendo e refazendo no estúdio inúmeras linhas inúmeras vezes. Hoje gosto de acreditar que estamos começando a atingir um equilíbrio. No fim das contas, o que vale é a performance, a emoção e o momento único que está sendo captado ali. Se dentro desse momento único há a possibilidade de corrigir uma ou outra imperfeição, por que não? Desde que não soe falso, forçado, não vejo motivo para se ter pudor. Desde que seja a serviço da música, e não contra ou a favor do ego, vale bastante coisa - ou quase tudo.

As mixagens acontecerão a partir de segunda-feira, no estúdio Flap aqui em São Paulo. Estúdio legalzão, com muitos periféricos (compressores, equalizadores...) para mixarmos da maneira romântica, old-school. Até dá pra fazer recall, caso alguma mix saia "errada", mas a mix em si se torna uma performance. O engenheiro de mixagem será o Fabio, o maestro Pinczowski, o cara em quem mais confio pra tudo que diz respeito a som. Então é só relaxar, se alimentar direito e ouvir com carinho e sensibilidade.

Estou sentindo uma página virando na minha vida. Quase como aquele momento em que acaba a subida da montanha-russa. Tá dando um frio na barriga. Mas ao mesmo tempo tô pronto pra aproveitar o ventinho que tá chegando.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Quem canta...

Passei o carnaval no sítio na companhia de um batalhão de amigos, e nos momentos oportunos fui gravando as vozes dessas dez canções.

Reconheço, com humildade, que estou passando por um momento de intenso aprendizado. I'm humbled, como dizem os ingleses. Minha vida cotidiana se mistura com minha vida no estúdio e no palco. A música derrubou de vez essas fronteiras. O jeito que eu caminho é o jeito que eu canto. Não se trata de uma carreira. Tudo é um mesmo percurso.

Ao longo dos anos, sempre gostei de cantar, e os resultados que alcancei foram à base de avanços aleatórios. Tenho confiança suficiente na minha voz para cantar para uma platéia ou para um gravador. Mas faltava um passo importante que comecei a dar agora. E isso dá um friozinho na barriga, daqueles bons. Esse passo é começar a tratar o corpo como um instrumento, e usar os recursos da voz como o faço com qualquer outro instrumento que eu toque. Minha parte preferida no estúdio vem se tornando cada vez mais dirigir cantores e cantoras, buscar a energia certa para que eles transmitam aquela vibração da maneira mais adequada, a serviço de cada canção. Ao me ver no lado oposto, de frente para o microfone, mais uma descoberta se fez, mais uma porta se abriu, mais um aprendizado se fez presente.

André Frateschi, Miranda Kassin e Gustavo Garde perderam preciosos momentos à beira da piscina ou de frente aos pores-do-sol para me ajudar naquilo em que são verdadeiros craques: cantar. Minha gratidão quase que explode. Me ensinaram truques, aquecimentos, técnicas e compartilharam experiências. E o resultado pude sentir na hora, a cada take. Ainda tenho bastante a melhorar, e estou encarando isso com alegria.

Essa etapa também é a mais emocional até agora. Cantar essas letras, dividir essas imagens, mexer lá no baú com a origem dessas músicas foi (tem sido) intenso, mais do que em qualquer outro trabalho que eu tenha feito até então. Porque sempre tive a sorte, como no caso do Ludov, de dividir as responsabilidades com outras 3 ou 4 pessoas (e seus talentos).

E antes que vocês se entediem de vez com meu deslumbramento, vou ficando por aqui. Espero mesmo que a maioria que for ouvir esse disco não reflita nem por poucos instantes sobre todas essas tantas elocubrações, e simplesmente ouça o que está por vir. No fim das contas, depois de tanto lero-lero, o que vai sobrar é um punhadinho de canções. Não quero que pareça que elas são tratados de metafísica. Pra mim podem até ser, mas pros outros, que sejam somente canções. Dó, ré, mi.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Soprando os tubos

Hoje fui ouvindo o Sticky Fingers dos Stones, em busca de uma referência para um solo de sax que quis colocar na Meus Fones. Sim, tem um solo de sax no meu disco. Sim, um ou outro vai torcer o nariz. Sim, minha mãe vai adorar. Não, nada mais além da minha própria vontade decide o que entra ou não nesse disco, então foda-se, tasca um solo de sax aí!


A verdade é que assim como não dá pra usar Beatles como referência pra nada, senão você se frustra, o mesmo acontece com Rolling Stones dos anos 60 e 70, por motivos díspares. Com os Beatles, a frustração é como as gravações são perfeitas, e como resultaram em discos maravilhosos. Com os Stones, é como gravações que hoje seriam consideradas desleixadas resultaram em discos maravilhosos!!!!

Mas tudo bem, o solo do Bobby Keys em "Brown Sugar" serviu de inspiração para um dia produtivo, no mínimo.

Quando se grava à medida que se monta o arranjo - ou arranja-se à medida que se vai gravando - sempre acontece uma coisa, em contrapartida a arranjar as músicas com uma banda ensaiada: alguma hora você começa a substituir timbres provisórios e registros de idéias por timbres cheios, verdadeiros. É o caso dos metais que gravei hoje. E aí você tem que se reacostumar com o lugar das coisas em cada música. Um baixo que antes parecia muito grave, agora emagreceu porque tem a companhia de um trombone de verdade. Uma guitarra que harmonizava com um trumpete falso (tocado em midi, ou num sintetizador), agora está 'competindo' com ele por um lugar ao sol...

Complicado.

Ao mesmo tempo, outro resultado é ver a música respirar mais, pulsar mais. Afinal, são pessoas soprando os tubos no lugar de logarítimos numa placa transistorizada. Ainda bem.

Então é isso, trombones, saxes e trumpetes agora fazem parte do time de sons que vai chegar até você em breve, num mesmo pacotão que é esse meu trabalho solo. (Caramba, tá acabando!!! Daqui a pouco é mixagem...)

E fiquei bem feliz porque o Paulinho de Viveiro, trumpetista, gravou linhas lindíssimas em Imagens do Japão, uma das mais tocantes pra mim.

E nesse carnaval, excepcionalmente (haha), vocês não vão me ver desfilando na avenida, nem dando vexame em bloco, nem cambaleando atrás de trio elétrico. Vou é pro sítio gravar as vozes principais!!! Brisa boa!

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Músicas são lugares

Músicas são lugares quando são bem-sucedidas. Músicas são bem-sucedidas quando são lugares.

Quando nos transportam para além de formato, para outros mundos, outras sensações. Para muito além do Ipod, do Itunes, do Youtube, da vitrola, do Blip, do Last.

Fiquei completamente hipnotizado por essa música que se chama "Sister Rosetta Goes Before Us". Ela me levou pra outro tempo, outro lugar. Liguei pra querida Miranda Kassin para que ela a ouvisse também. Está no álbum Raising Sand, do Robert Plant com a Alison Krauss. Descobri no Google que quem compôs foi Sam Phillips. Fiquei entusiasmado! O legendário Sam Phillips, fundador da Sun Records, descobridor de ninguém menos que Elvis Presley, tinha composto essa maravilha????



Não. Quem compôs foi uma figura interessantíssima com o mesmo nome do produtor famoso. Ela começou a carreira como cantora de músicas cristãs, sob o nome artístico Leslie Phillips. Nunca se sentiu à vontade nesse rótulo, mas cumpriu seu contrato de uns tantos discos por um selo religioso. Nos anos 90, ao se ver livre do contrato, rebatizou-se Sam Phillips, casou com o super produtor T-Bone Burnett, e escreveu maravilhas como essa "Sister Rosetta Goes Before Us". Conta frequentemente com o apoio do outro Elvis, o Costello, seu amigo próximo. Lançou e ainda lança discos que prometem ser muito bons. Estou baixando agora mesmo! Não se desperdiça a chance de ouvir uma nova parceria Sam Phillips+Elvis!!!



T-Bone Burnett virou referência nos meus papos com o Fabio, que é um grande admirador desse produtor americano. O cara tem todo um mito em volta dele, esse T-Bone. Dizem que ele só permite objetos de madeira, couro ou metal em sua sala de gravação. Pede até que os guitarristas retirem o escudo feito de plástico ao gravarem lá. Todo o preciosismo para capturar as suas amadas frequências graves com mais perfeição.



Ele, assim como o Daniel Lanois (produtor do U2 e Bob Dylan), aprendeu com os jamaicanos a tirar o grave da madeira, da vida, dos deuses, tocando o contrabaixo com um toque muito sutil do polegar ou do indicador , com o volume bem elevado, para reduzir o ataque e otimizar as frequências graves do instrumento.



No meu disco, juntei essa referência com o hábito do rocksteady de se dobrar as linhas de baixo com uma guitarra "pica-pau", e cheguei num som empolgante. Um som inspirado nos meus heróis Paul e Brian Wilson, mas procurando também o grave quente, acolhedor. Também aplicamos essa maluquice a algumas músicas das Vespas Mandarinas, minha banda com o Chuck Hipolitho (veja fotos da gravação aqui).

Em tempo: T-Bone Burnett produziu o disco do Robert Plant & Alison Krauss, e foi merecidamente bastante premiado pela sonoridade que atingiu, pelos climas que capturou, e pelos lugares a que nos transportou.

Arrivederci!

domingo, 31 de janeiro de 2010

Tijolo por tijolo




Cheguei na parte mais difícil do disco.

Agora tem uma lista interminável de pequenas coisinhas a fazer ou consertar, anotada num esquema de cores, símbolos e garranchos que só eu vou entender. Até eu completar essa listinha, não vai ter muita novidade. Todos os arranjos já estão bem definidos, e agora é tijolo por tijolo.

O Fabio tem me ajudado com sugestões, e ao longo do processo sei que vai gravar alguns dos muitos instrumentos que domina. Ainda bem. O Fabio tocando qualquer coisa é finesse.

E ainda tenho que começar a mandar as linhas de backing vocals pro meu Dream Team gravar: André Frateschi, Felipe Machado, Miranda Kassin e Manu Farenzena!

Tá difícil conter a ansiedade, mas já estou vendo a luz no fim do túnel! Isso me lembra o Luis Fernando Verissimo, que diz que pessimista não é quem não enxerga luz no fim do túnel, e sim aquele que não tem nem muita certeza que isso é mesmo um túnel...

Nos próximos dias vou começar a desenhar a capa. Estou pensando em fazer a capa e o encarte à mão, e se tudo der certo, lançarei esse álbum em vinil e mp3, somente.

Só não sei ainda o que desenhar. Alguém aí tem alguma sugestão?

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Instant Karma is gonna get you



Minha vida mudou mais em 3 anos do que nos 30 anteriores. E isso de alguma maneira me ajudou a focar cada vez mais na minha essência. E de procurar o essencial de cada coisa, de cada pessoa que cruza o meu caminho. O ato de cumprimentar alguém com as palmas unidas, muito comum no oriente, é uma maneira de reconhecer o deus que há em cada um de nós. E acredito que isso é nossa essência.

Daniel Padilha, o Galã - amigo que sempre transitou no mesmo grupo de amigos que eu há anos, e que co-produziu "O Exercício das Pequenas Coisas" do Ludov em 2005 - esteve no sítio por dois dias, gravando vozes e bases para suas canções que o parceiro de longa data Fabio Pinczowski irá produzir. Um em São Paulo, outro em Barcelona. O Daniel é para o Fabio um amigo-pilar, e o fato de morar em Barcelona, mesma cidade que meu grande amigo-pilar Edu Filomeno (ex-baixista do Ludov) também mora, me faz ter certeza que nossas conexões não são ao acaso. Ou que nosso conceito de acaso é muito limitado. Ou que nossa percepção das conexões é muito pequena ainda. Daniel está em um momento iluminado de vida, enfrentando desafios com sabedoria, leveza e contemplação, junto com sua amada. Desejei-lhe sorte silenciosamente repetidas vezes, durante sua estada no sítio.

Daí que desse seu momento especial, o Daniel me passou algumas lições muito valiosas. Por exemplo, só agora, depois de um papo com ele, entendi o que o John Lennon quis dizer com "Instant Karma". O karma, ação e reação, não obedece à nossa noção de tempo. Tudo que fazemos encontra uma reação de igual intensidade e sentido oposto em algum canto do universo, de maneira imediata e atemporal. Por isso, não devo temer o resultado de nada do que estou fazendo atualmente, porque estou convicto que o tenho conseguido fazer com o coração livre, com o empenho exacerbado. Não preciso me preocupar em colher os frutos de nada. Porque o semear e o colher são instantâneos.

"Don't you recognize my face?"

Antes do Daniel, quem esteve no sítio foi Gustavo Garde e Monique Maion, duas pessoas das mais amáveis que jamais conhecerei. Dois belos artistas, no auge de sua confiança, habitando um saudável universo próprio. Eles têm o Sunset (www.myspace.com/7sunset), coisa linda de se ver, cujo segundo álbum o Fabio Pinczwoski está produzindo. Fui como assistente trabalhar nas suas gravações no sítio. O que um assistente faz? Fica confinado a seu quartinho à prova de rumores, e sai apenas para cozinhar sua melhores receitas, incitar as polêmicas e as demonstrações de afeto em igual proporção, operar o ProTools. Tenta não quebrar nada, tenta não atrapalhar, monta, desmonta e carrega um bocado de coisas. E ainda se diverte e aprende muito com isso tudo.

Claro que observar toda essa gente do bem (Sunset e trupe de amados) fazendo o que sabem fazer de melhor foi bem conveniente para o processo que estou passando com meu disco solo. Idéias, sentimentos e conversas afloraram e terão seu reflexo no meu disquinho.

A vida vem sempre em todo seu espectro de perrengues e luzes. Estou trabalhando artesanalmente no meu filtro, todo dia, vida afora.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Macaquinhos com interruptores

Sempre digo que nós músicos somos macaquinhos brincando com interruptores. A gente aprende que cutucar aqui acende ali... Mas a real de tudo que acontece além disso - a usina hidrelétrica, a rede de distribuição, a fiação interna da casa - a gente nunca vai entender completamente. Então a gente toca nossos acordes, canta nossas melodias, batuca nossos ritmos. Mas estamos mexendo também com o fator sobrehumano, e essa parte a gente só vislumbra pelo resultado que traz, positivo ou negativo.

Ontem, falei com o Samuca Fraga, que gravou as baterias, que também parece que nós músicos temos um boost do Mario Kart à nossa disposição. A relação que se forma através da música - seja com o público, seja com os amigos - pula etapas.

Fabio Pinczowski, Chuck Hipolitho, Samuca Fraga e Rafael Terpins ontem terminaram de me lançar em uma nova fase do processo.

Samuca gravou as bateras ora como um Bonham alucinado, ora como um Ringo com o coração maior que o mundo. É o melhor batera da nossa geração. E assim, lançou uma luz sobre o disco.

E o Chuck, além de tirar com o Fabio um puta som da batera, colocou muita energia na música que resolvi chamar de Teresa. Chuck parecia o Animal dos Muppets, o Keith Moon e por algum motivo, o Bruce Lee gravando. Eita bichinho doido. Esse macaquinho descobriu uns interruptores que ligam uns estrobos e uns liquidificadores de vez em quando! haha

Depois das gravações, o Rafa registrou uma conversa nossa sobre a experiência que dividimos até então. Isso também lançou mais luz sobre tudo.

Saindo de lá, eu e Fabio fomos ao 12 Dólares e empacotamos nosso equipamento e viemos para o sítio. Estamos aqui a trabalho (a dupla Sunset - Monique Maion e Gustavo Garde - vai gravar com a gente). Mas ontem, depois de levantar todo o circo e preparar o setup das gravações que começam hoje, não resisti e gravei um vocal novo para Imagens do Japão. Não sei se valeu ou não, mas o som ficou bão.

No kung fu, aprendi que o caminho é solitário. Isso me encheu de coragem e foco para trazer sozinho esse disco até aqui. Até então.

Mas também aprendi que a companhia é uma benção. Quando vi o ato de amor que meus amigos estavam dispostos a assumir, não podia desperdiçar a chance de tê-los comigo nessa jornada.

Let it be.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Do or do not

Hoje foi o primeiro dia de gravação das bateras.

Acordei cedo no Rio, completamente de ressaca, e saí cambaleando taxi adentro. De alguma forma consegui entrar num avião que me trouxe de volta, com 1h a mais de atraso que eu não sei de onde veio. (Loooost 6a temporada?)

Vou dizer pra vocês que a vida se repete também nas coisas boas, olha só. Sabe quando você sabe que vai fazer, sei lá, uma viagem inesquecível com seus grandes amigos? Substitua uma viagem por um dia no estúdio, e grandes amigos por grandes amigos, e isso terá sido a expectativa que senti a caminho do estúdio hoje.

Chegando lá, o Chuck e o Fabio já tinham se enturmado com as paredes e os microfones e tirado um puta som da batera do Samuca. Papeamos e fomos almoçar. E o que aconteceu na volta, daí em diante, vocês vão ter que esperar pra ouvir. Algumas referências pop, sinfônicas e psicotrópicas depois, e a mágica está sendo feita!

Amanhã tem mais.

Desde já, 2 consequências:

1. vou regravar um monte de coisas, pra chegar no nível a que o Samuca levou as músicas.
2. senti que foi jogada uma luz sobre o repertório. O desafio continua sendo manter o foco e a espontaneidade, mas não tem mais pra onde varrer a poeira. O lance é deixar tudo bonito mesmo.

Como diria o Yoda, "Do or do not. There is no try."

Namaste!

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

No carro

Vim ouvindo no carro algumas das músicas.

Fiquei com a sensação muito estranha de que não fui eu que fiz tudo aquilo. Quantas guitarras, quantos pianos, quantos violões? Riffs, convenções, contrapontos? Não sei de onde vieram muitos dos sons. Pode ser só o cansaço, mas tem música que eu não tenho a menor idéia de tonalidade, acordes... Só lembro de ter feito as letras.

É estraaaaanho...

Especiais participações

Último dia de gravação das bases.

Estou feliz com o "lugar" dessas músicas. Com o clima que elas trazem.

Gravei mais backings, guitarras e violões esse fim de semana. Nesse momento estou preparando as faixas pro Samuel Fraga escutar e fazer um esquenta para as gravações de batera na quarta e quinta próximas.

Sou privilegiado de ser amigo de músicos talentosos, de artistas inspirados. Mas antes de tudo, estão nesse disco por serem pessoas importantes pra mim, e por contribuirem para as canções falarem melhor.

Esse não é um disco com "participações especiais". Mas há participações, e todas elas mais do que especiais.