segunda-feira, 5 de abril de 2010

A ordem das músicas

Ouvi um milhão de vezes as músicas na ordem, pra finalmente mandá-las para a masterização no Estúdio El Rocha aqui em São Paulo.

Procurei mantê-las numa ordem coerente tanto para uma ouvida "a la CD" (ô coisa antiga), quanto para ouvir virando o disco, lado A e lado B (ô coisa antiga 2).

Essa coisa de colocar músicas em ordem mexe com um treco primordial (como estou eloquente hoje, Deus meu!). Porque é a mesma sensação de fazer uma fita ou um CD com suas músicas preferidas pra namoradinha adolescente, pensando em como cada música deve vir no momento certo para se fazer sentir com a intensidade desejada. Só que dessa vez, ao invés de namoradinha, você faz isso para uma platéia sem rosto. E ao invés de Patience do Guns e Sitting at the dock of the bay na versão do Pearl Jam, são suas próprias músicas. Medo.

Ficou assim:

Lado A
1. Grandes esperanças
2. Meus fones
3. O bom mesmo é ser o mar
4. Quando foi que a solidão aconteceu pra gente?
5. As invasões bárbaras

Lado B
6. Um rio só cai
7. Um ponto singular
8. Teresa
9. Imagens do Japão
10. História geral

quinta-feira, 11 de março de 2010

Quase lá!



Hoje fizemos uma pausa para cuidar do estúdio 12 dólares. Amanhã voltamos à Flap para as 2 últimas mixagens.

Já estão prontas Meus fones, O bom mesmo é ser o mar, Um ponto singular, Teresa, Um rio só cai, Quando foi que a solidão aconteceu pra gente?, As invasões bárbaras e História geral.

Escutei no estúdio, no carro, no laptop, no Ipod e em casa. Amei o resultado. As músicas estão com cor, com sentimento, com personalidade. Refletem para o exterior o que eu trazia comigo no interior. O que mais posso querer delas?

Divertidíssimo foi acertar os últimos detalhes da participação da Manu Farenzena pelo Skype. A excelente vocalista da Wonkavision mandou muito bem nos vocais que gravou, e me mandou os arquivos pela rede, lá de Londres, onde mora. Manu é amiga de longa data, e estou muito feliz que esse disco tenha nos reaproximado.

Faz muitos anos desde minhas primeiras gravações em fita K7 em Brasília, ou meus experimentos com um portastudio que gravava em ZIP discs, já em São Paulo. Tanta coisa que a gente vai deixando e esquecendo pelo caminho... Estou realizado desde já por não ter negligenciado essa minha vontade de cantar essas músicas.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Vieja escuela


Então começou. Fabio Pinczowski no comando das mixagens no estúdio FLAP.

Hoje as duas primeiras já foram mixadas, O bom mesmo é ser o mar e Meus fones.

Estamos tentando resgatar o uso dos ouvidos na hora de mixar. Old school. Parece óbvio, mas hoje em dia ouve-se pouco, fala-se muito, e na hora de mixar tem gente que parece mais estar diagramando os sons no Pro Tools ou no Logic. Depois de um tempo, o hábito de ver as ondas sonoras na tela do computador, e o desenho meio Lego que se forma em cada música, começa a prejudicar a maneira como ouvimos o arranjo. E isso pode, perigosamente, afetar a maneira que a canção chegaria até vocês. Ou melhor, a maneira que ela não chegaria até vocês. Por isso, o que eu quero dizer com old school é passarmos tudo por uma mesa, compressores e equalizadores analógicos, procurando ao máximo não ter que recorrer sempre à vizualização no monitor. Dessa vez, de virtual, aproveitamos um plugin (um software) que emula um plate reverb via Pro Tools, mas foi só. O resto são válvulas e transistores colorindo o som.





Idealmente, também mandaríamos tudo no final para (ou de volta a) uma fita, um gravador de rolo, como a Studer da foto acima. Mas não tendo esse recurso dessa vez, pelo menos usamos um FATSO a mais no final de tudo, para dar uma esquentada no som. Ele é um compressor que simula o efeito que o processamento da fita traz ao som.




Então, o processo é analógico mas o material é digital. O approach é old school, mas o equipamento nem tanto.

As músicas já parecem um retrato de um feriado que acabou de passar. Se fossem fotografias, já estariam reveladas, ou no processo de revelação.

Sigo contente e grato, sei que minha essência está nelas.

Hoje foi um dia muito tranquilo, é a mixagem mais segura que participei, mais clara, sem segredos. Sem jogo ganho, mas sabendo o que estamos fazendo em campo.

sábado, 6 de março de 2010

Virando a página




Nada pareceu fluir tão fácil para esse disco como em janeiro.

Fevereiro foi um mês lento que passou depressa. Mas na verdade coincidiu com uma fase do processo que é naturalmente mais vagaroso, ou assim parece. A tal da lista com todos os itens a serem gravados foi sendo "ticada", linha por linha.

Editei todas as músicas. O que quero dizer com editar? É tirar sobrinhas, vazamentos, barulhinho de respiração e tosses entre takes de voz, tirar do arranjo uma ou outra coisa que ficou a mais. E também ocasionalmente afinar um ou outro trechinho de voz ou instrumento. Para quem não vive o dia-a-dia do estúdio, a idéia de afinar posteriormente qualquer elemento de uma canção parece meio alienígena. Mas se feito com cautela, economiza tempo e salva takes inteiros que, antes de tal tecnologia existir, talvez fossem descartados. Isso é bom ou ruim? Bom, o fato é que os anos 50 acabaram, e isso não é necessariamente ruim. A custo de muita pressão, e às vezes de sérios danos psicológicos, os artistas daquele período eram educados a fazer tudo de uma maneira incrivelmente bem lapidada, e em poucos takes (os estúdios eram infinitamente mais custosos). Nos anos 80 e 90, por outro lado, era comum uma perda de tempo e energia exorbitante, fazendo e refazendo no estúdio inúmeras linhas inúmeras vezes. Hoje gosto de acreditar que estamos começando a atingir um equilíbrio. No fim das contas, o que vale é a performance, a emoção e o momento único que está sendo captado ali. Se dentro desse momento único há a possibilidade de corrigir uma ou outra imperfeição, por que não? Desde que não soe falso, forçado, não vejo motivo para se ter pudor. Desde que seja a serviço da música, e não contra ou a favor do ego, vale bastante coisa - ou quase tudo.

As mixagens acontecerão a partir de segunda-feira, no estúdio Flap aqui em São Paulo. Estúdio legalzão, com muitos periféricos (compressores, equalizadores...) para mixarmos da maneira romântica, old-school. Até dá pra fazer recall, caso alguma mix saia "errada", mas a mix em si se torna uma performance. O engenheiro de mixagem será o Fabio, o maestro Pinczowski, o cara em quem mais confio pra tudo que diz respeito a som. Então é só relaxar, se alimentar direito e ouvir com carinho e sensibilidade.

Estou sentindo uma página virando na minha vida. Quase como aquele momento em que acaba a subida da montanha-russa. Tá dando um frio na barriga. Mas ao mesmo tempo tô pronto pra aproveitar o ventinho que tá chegando.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Quem canta...

Passei o carnaval no sítio na companhia de um batalhão de amigos, e nos momentos oportunos fui gravando as vozes dessas dez canções.

Reconheço, com humildade, que estou passando por um momento de intenso aprendizado. I'm humbled, como dizem os ingleses. Minha vida cotidiana se mistura com minha vida no estúdio e no palco. A música derrubou de vez essas fronteiras. O jeito que eu caminho é o jeito que eu canto. Não se trata de uma carreira. Tudo é um mesmo percurso.

Ao longo dos anos, sempre gostei de cantar, e os resultados que alcancei foram à base de avanços aleatórios. Tenho confiança suficiente na minha voz para cantar para uma platéia ou para um gravador. Mas faltava um passo importante que comecei a dar agora. E isso dá um friozinho na barriga, daqueles bons. Esse passo é começar a tratar o corpo como um instrumento, e usar os recursos da voz como o faço com qualquer outro instrumento que eu toque. Minha parte preferida no estúdio vem se tornando cada vez mais dirigir cantores e cantoras, buscar a energia certa para que eles transmitam aquela vibração da maneira mais adequada, a serviço de cada canção. Ao me ver no lado oposto, de frente para o microfone, mais uma descoberta se fez, mais uma porta se abriu, mais um aprendizado se fez presente.

André Frateschi, Miranda Kassin e Gustavo Garde perderam preciosos momentos à beira da piscina ou de frente aos pores-do-sol para me ajudar naquilo em que são verdadeiros craques: cantar. Minha gratidão quase que explode. Me ensinaram truques, aquecimentos, técnicas e compartilharam experiências. E o resultado pude sentir na hora, a cada take. Ainda tenho bastante a melhorar, e estou encarando isso com alegria.

Essa etapa também é a mais emocional até agora. Cantar essas letras, dividir essas imagens, mexer lá no baú com a origem dessas músicas foi (tem sido) intenso, mais do que em qualquer outro trabalho que eu tenha feito até então. Porque sempre tive a sorte, como no caso do Ludov, de dividir as responsabilidades com outras 3 ou 4 pessoas (e seus talentos).

E antes que vocês se entediem de vez com meu deslumbramento, vou ficando por aqui. Espero mesmo que a maioria que for ouvir esse disco não reflita nem por poucos instantes sobre todas essas tantas elocubrações, e simplesmente ouça o que está por vir. No fim das contas, depois de tanto lero-lero, o que vai sobrar é um punhadinho de canções. Não quero que pareça que elas são tratados de metafísica. Pra mim podem até ser, mas pros outros, que sejam somente canções. Dó, ré, mi.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Soprando os tubos

Hoje fui ouvindo o Sticky Fingers dos Stones, em busca de uma referência para um solo de sax que quis colocar na Meus Fones. Sim, tem um solo de sax no meu disco. Sim, um ou outro vai torcer o nariz. Sim, minha mãe vai adorar. Não, nada mais além da minha própria vontade decide o que entra ou não nesse disco, então foda-se, tasca um solo de sax aí!


A verdade é que assim como não dá pra usar Beatles como referência pra nada, senão você se frustra, o mesmo acontece com Rolling Stones dos anos 60 e 70, por motivos díspares. Com os Beatles, a frustração é como as gravações são perfeitas, e como resultaram em discos maravilhosos. Com os Stones, é como gravações que hoje seriam consideradas desleixadas resultaram em discos maravilhosos!!!!

Mas tudo bem, o solo do Bobby Keys em "Brown Sugar" serviu de inspiração para um dia produtivo, no mínimo.

Quando se grava à medida que se monta o arranjo - ou arranja-se à medida que se vai gravando - sempre acontece uma coisa, em contrapartida a arranjar as músicas com uma banda ensaiada: alguma hora você começa a substituir timbres provisórios e registros de idéias por timbres cheios, verdadeiros. É o caso dos metais que gravei hoje. E aí você tem que se reacostumar com o lugar das coisas em cada música. Um baixo que antes parecia muito grave, agora emagreceu porque tem a companhia de um trombone de verdade. Uma guitarra que harmonizava com um trumpete falso (tocado em midi, ou num sintetizador), agora está 'competindo' com ele por um lugar ao sol...

Complicado.

Ao mesmo tempo, outro resultado é ver a música respirar mais, pulsar mais. Afinal, são pessoas soprando os tubos no lugar de logarítimos numa placa transistorizada. Ainda bem.

Então é isso, trombones, saxes e trumpetes agora fazem parte do time de sons que vai chegar até você em breve, num mesmo pacotão que é esse meu trabalho solo. (Caramba, tá acabando!!! Daqui a pouco é mixagem...)

E fiquei bem feliz porque o Paulinho de Viveiro, trumpetista, gravou linhas lindíssimas em Imagens do Japão, uma das mais tocantes pra mim.

E nesse carnaval, excepcionalmente (haha), vocês não vão me ver desfilando na avenida, nem dando vexame em bloco, nem cambaleando atrás de trio elétrico. Vou é pro sítio gravar as vozes principais!!! Brisa boa!

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Músicas são lugares

Músicas são lugares quando são bem-sucedidas. Músicas são bem-sucedidas quando são lugares.

Quando nos transportam para além de formato, para outros mundos, outras sensações. Para muito além do Ipod, do Itunes, do Youtube, da vitrola, do Blip, do Last.

Fiquei completamente hipnotizado por essa música que se chama "Sister Rosetta Goes Before Us". Ela me levou pra outro tempo, outro lugar. Liguei pra querida Miranda Kassin para que ela a ouvisse também. Está no álbum Raising Sand, do Robert Plant com a Alison Krauss. Descobri no Google que quem compôs foi Sam Phillips. Fiquei entusiasmado! O legendário Sam Phillips, fundador da Sun Records, descobridor de ninguém menos que Elvis Presley, tinha composto essa maravilha????



Não. Quem compôs foi uma figura interessantíssima com o mesmo nome do produtor famoso. Ela começou a carreira como cantora de músicas cristãs, sob o nome artístico Leslie Phillips. Nunca se sentiu à vontade nesse rótulo, mas cumpriu seu contrato de uns tantos discos por um selo religioso. Nos anos 90, ao se ver livre do contrato, rebatizou-se Sam Phillips, casou com o super produtor T-Bone Burnett, e escreveu maravilhas como essa "Sister Rosetta Goes Before Us". Conta frequentemente com o apoio do outro Elvis, o Costello, seu amigo próximo. Lançou e ainda lança discos que prometem ser muito bons. Estou baixando agora mesmo! Não se desperdiça a chance de ouvir uma nova parceria Sam Phillips+Elvis!!!



T-Bone Burnett virou referência nos meus papos com o Fabio, que é um grande admirador desse produtor americano. O cara tem todo um mito em volta dele, esse T-Bone. Dizem que ele só permite objetos de madeira, couro ou metal em sua sala de gravação. Pede até que os guitarristas retirem o escudo feito de plástico ao gravarem lá. Todo o preciosismo para capturar as suas amadas frequências graves com mais perfeição.



Ele, assim como o Daniel Lanois (produtor do U2 e Bob Dylan), aprendeu com os jamaicanos a tirar o grave da madeira, da vida, dos deuses, tocando o contrabaixo com um toque muito sutil do polegar ou do indicador , com o volume bem elevado, para reduzir o ataque e otimizar as frequências graves do instrumento.



No meu disco, juntei essa referência com o hábito do rocksteady de se dobrar as linhas de baixo com uma guitarra "pica-pau", e cheguei num som empolgante. Um som inspirado nos meus heróis Paul e Brian Wilson, mas procurando também o grave quente, acolhedor. Também aplicamos essa maluquice a algumas músicas das Vespas Mandarinas, minha banda com o Chuck Hipolitho (veja fotos da gravação aqui).

Em tempo: T-Bone Burnett produziu o disco do Robert Plant & Alison Krauss, e foi merecidamente bastante premiado pela sonoridade que atingiu, pelos climas que capturou, e pelos lugares a que nos transportou.

Arrivederci!

domingo, 31 de janeiro de 2010

Tijolo por tijolo




Cheguei na parte mais difícil do disco.

Agora tem uma lista interminável de pequenas coisinhas a fazer ou consertar, anotada num esquema de cores, símbolos e garranchos que só eu vou entender. Até eu completar essa listinha, não vai ter muita novidade. Todos os arranjos já estão bem definidos, e agora é tijolo por tijolo.

O Fabio tem me ajudado com sugestões, e ao longo do processo sei que vai gravar alguns dos muitos instrumentos que domina. Ainda bem. O Fabio tocando qualquer coisa é finesse.

E ainda tenho que começar a mandar as linhas de backing vocals pro meu Dream Team gravar: André Frateschi, Felipe Machado, Miranda Kassin e Manu Farenzena!

Tá difícil conter a ansiedade, mas já estou vendo a luz no fim do túnel! Isso me lembra o Luis Fernando Verissimo, que diz que pessimista não é quem não enxerga luz no fim do túnel, e sim aquele que não tem nem muita certeza que isso é mesmo um túnel...

Nos próximos dias vou começar a desenhar a capa. Estou pensando em fazer a capa e o encarte à mão, e se tudo der certo, lançarei esse álbum em vinil e mp3, somente.

Só não sei ainda o que desenhar. Alguém aí tem alguma sugestão?

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Instant Karma is gonna get you



Minha vida mudou mais em 3 anos do que nos 30 anteriores. E isso de alguma maneira me ajudou a focar cada vez mais na minha essência. E de procurar o essencial de cada coisa, de cada pessoa que cruza o meu caminho. O ato de cumprimentar alguém com as palmas unidas, muito comum no oriente, é uma maneira de reconhecer o deus que há em cada um de nós. E acredito que isso é nossa essência.

Daniel Padilha, o Galã - amigo que sempre transitou no mesmo grupo de amigos que eu há anos, e que co-produziu "O Exercício das Pequenas Coisas" do Ludov em 2005 - esteve no sítio por dois dias, gravando vozes e bases para suas canções que o parceiro de longa data Fabio Pinczowski irá produzir. Um em São Paulo, outro em Barcelona. O Daniel é para o Fabio um amigo-pilar, e o fato de morar em Barcelona, mesma cidade que meu grande amigo-pilar Edu Filomeno (ex-baixista do Ludov) também mora, me faz ter certeza que nossas conexões não são ao acaso. Ou que nosso conceito de acaso é muito limitado. Ou que nossa percepção das conexões é muito pequena ainda. Daniel está em um momento iluminado de vida, enfrentando desafios com sabedoria, leveza e contemplação, junto com sua amada. Desejei-lhe sorte silenciosamente repetidas vezes, durante sua estada no sítio.

Daí que desse seu momento especial, o Daniel me passou algumas lições muito valiosas. Por exemplo, só agora, depois de um papo com ele, entendi o que o John Lennon quis dizer com "Instant Karma". O karma, ação e reação, não obedece à nossa noção de tempo. Tudo que fazemos encontra uma reação de igual intensidade e sentido oposto em algum canto do universo, de maneira imediata e atemporal. Por isso, não devo temer o resultado de nada do que estou fazendo atualmente, porque estou convicto que o tenho conseguido fazer com o coração livre, com o empenho exacerbado. Não preciso me preocupar em colher os frutos de nada. Porque o semear e o colher são instantâneos.

"Don't you recognize my face?"

Antes do Daniel, quem esteve no sítio foi Gustavo Garde e Monique Maion, duas pessoas das mais amáveis que jamais conhecerei. Dois belos artistas, no auge de sua confiança, habitando um saudável universo próprio. Eles têm o Sunset (www.myspace.com/7sunset), coisa linda de se ver, cujo segundo álbum o Fabio Pinczwoski está produzindo. Fui como assistente trabalhar nas suas gravações no sítio. O que um assistente faz? Fica confinado a seu quartinho à prova de rumores, e sai apenas para cozinhar sua melhores receitas, incitar as polêmicas e as demonstrações de afeto em igual proporção, operar o ProTools. Tenta não quebrar nada, tenta não atrapalhar, monta, desmonta e carrega um bocado de coisas. E ainda se diverte e aprende muito com isso tudo.

Claro que observar toda essa gente do bem (Sunset e trupe de amados) fazendo o que sabem fazer de melhor foi bem conveniente para o processo que estou passando com meu disco solo. Idéias, sentimentos e conversas afloraram e terão seu reflexo no meu disquinho.

A vida vem sempre em todo seu espectro de perrengues e luzes. Estou trabalhando artesanalmente no meu filtro, todo dia, vida afora.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Macaquinhos com interruptores

Sempre digo que nós músicos somos macaquinhos brincando com interruptores. A gente aprende que cutucar aqui acende ali... Mas a real de tudo que acontece além disso - a usina hidrelétrica, a rede de distribuição, a fiação interna da casa - a gente nunca vai entender completamente. Então a gente toca nossos acordes, canta nossas melodias, batuca nossos ritmos. Mas estamos mexendo também com o fator sobrehumano, e essa parte a gente só vislumbra pelo resultado que traz, positivo ou negativo.

Ontem, falei com o Samuca Fraga, que gravou as baterias, que também parece que nós músicos temos um boost do Mario Kart à nossa disposição. A relação que se forma através da música - seja com o público, seja com os amigos - pula etapas.

Fabio Pinczowski, Chuck Hipolitho, Samuca Fraga e Rafael Terpins ontem terminaram de me lançar em uma nova fase do processo.

Samuca gravou as bateras ora como um Bonham alucinado, ora como um Ringo com o coração maior que o mundo. É o melhor batera da nossa geração. E assim, lançou uma luz sobre o disco.

E o Chuck, além de tirar com o Fabio um puta som da batera, colocou muita energia na música que resolvi chamar de Teresa. Chuck parecia o Animal dos Muppets, o Keith Moon e por algum motivo, o Bruce Lee gravando. Eita bichinho doido. Esse macaquinho descobriu uns interruptores que ligam uns estrobos e uns liquidificadores de vez em quando! haha

Depois das gravações, o Rafa registrou uma conversa nossa sobre a experiência que dividimos até então. Isso também lançou mais luz sobre tudo.

Saindo de lá, eu e Fabio fomos ao 12 Dólares e empacotamos nosso equipamento e viemos para o sítio. Estamos aqui a trabalho (a dupla Sunset - Monique Maion e Gustavo Garde - vai gravar com a gente). Mas ontem, depois de levantar todo o circo e preparar o setup das gravações que começam hoje, não resisti e gravei um vocal novo para Imagens do Japão. Não sei se valeu ou não, mas o som ficou bão.

No kung fu, aprendi que o caminho é solitário. Isso me encheu de coragem e foco para trazer sozinho esse disco até aqui. Até então.

Mas também aprendi que a companhia é uma benção. Quando vi o ato de amor que meus amigos estavam dispostos a assumir, não podia desperdiçar a chance de tê-los comigo nessa jornada.

Let it be.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Do or do not

Hoje foi o primeiro dia de gravação das bateras.

Acordei cedo no Rio, completamente de ressaca, e saí cambaleando taxi adentro. De alguma forma consegui entrar num avião que me trouxe de volta, com 1h a mais de atraso que eu não sei de onde veio. (Loooost 6a temporada?)

Vou dizer pra vocês que a vida se repete também nas coisas boas, olha só. Sabe quando você sabe que vai fazer, sei lá, uma viagem inesquecível com seus grandes amigos? Substitua uma viagem por um dia no estúdio, e grandes amigos por grandes amigos, e isso terá sido a expectativa que senti a caminho do estúdio hoje.

Chegando lá, o Chuck e o Fabio já tinham se enturmado com as paredes e os microfones e tirado um puta som da batera do Samuca. Papeamos e fomos almoçar. E o que aconteceu na volta, daí em diante, vocês vão ter que esperar pra ouvir. Algumas referências pop, sinfônicas e psicotrópicas depois, e a mágica está sendo feita!

Amanhã tem mais.

Desde já, 2 consequências:

1. vou regravar um monte de coisas, pra chegar no nível a que o Samuca levou as músicas.
2. senti que foi jogada uma luz sobre o repertório. O desafio continua sendo manter o foco e a espontaneidade, mas não tem mais pra onde varrer a poeira. O lance é deixar tudo bonito mesmo.

Como diria o Yoda, "Do or do not. There is no try."

Namaste!

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

No carro

Vim ouvindo no carro algumas das músicas.

Fiquei com a sensação muito estranha de que não fui eu que fiz tudo aquilo. Quantas guitarras, quantos pianos, quantos violões? Riffs, convenções, contrapontos? Não sei de onde vieram muitos dos sons. Pode ser só o cansaço, mas tem música que eu não tenho a menor idéia de tonalidade, acordes... Só lembro de ter feito as letras.

É estraaaaanho...

Especiais participações

Último dia de gravação das bases.

Estou feliz com o "lugar" dessas músicas. Com o clima que elas trazem.

Gravei mais backings, guitarras e violões esse fim de semana. Nesse momento estou preparando as faixas pro Samuel Fraga escutar e fazer um esquenta para as gravações de batera na quarta e quinta próximas.

Sou privilegiado de ser amigo de músicos talentosos, de artistas inspirados. Mas antes de tudo, estão nesse disco por serem pessoas importantes pra mim, e por contribuirem para as canções falarem melhor.

Esse não é um disco com "participações especiais". Mas há participações, e todas elas mais do que especiais.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Baterias, RHYTHM e um mantra egípcio




Foram 10 dias no estúdio até agora.

Não saiu tão rápido como almejei em dado momento. Talvez eu quisesse o impossível, talvez já ter um disco pronto a essas alturas. Mas estou aprendendo a seguir minha intuição pra tudo. E ela diz que está tudo como tem que ser. Minha intuição é minha melhor arma. Se eu fosse um Comando em Ação ou o Falcon, seria a arminha que viria junto na embalagem. Mauro Motoki, intuidor. Intuicionista. Intuicionário. (Conversa de menino: adorava o Ninja Branco, o Índio com a águia e o Bigodudo com o Rottweiler)

Já marquei sessões de bateria para semana que vem. Originalmente, pensei em tocar eu mesmo as bateras. Me sinto capaz. Mas se já tem sido trabalhoso gravar os instrumentos que eu domino sozinho... Tem que soltar o rec e sair correndo pra sala gravar. E se errar o take, voltar pra técnica. Achei que corre o risco do que era pra ser divertido virar uma nóia, um pé no saco.

Então agendei datas no Costella, o estúdio do Chuck Hipolitho, o visionário dos violões. O 12 dólares - estúdio do qual sou sócio - na semana que vem volta a suas atividades comerciais. Preferi aproveitar a oportunidade e levar minhas músicas prum passeio, pra arejá-las antes da arrematada final.

O Chuck mesmo vai comandar as baquetas em alguma(s). O Samuel Fraga, o melhor batera que eu conheço, o Jim Keltner da nossa geração, vai comandar o ritmo em todas as outras.

[Adoro o fato de que RHYTHM não possui nenhuma vogal (apesar do y fazer quase um papel de i). Porque melodia é feita de vogais. Tente cantar uma melodia sem vogal. Não dá. Mesmo se você fizer mmmmm.... o que vai dar a nota, a frequência, é o "u" embutido. Toda parte melódica que você canta é feita através de vogais. E é perfeito, portanto, que a parte rítmica seja representada por consoantes!]

Ando recitando um mantra egípcio que aprendi. Ele me ajuda a fazer o mesmo que tenho feito já há meses intuitivamente: evocar a minha essência.

Saiba. Seja lá o que você vai ouvir nas minhas músicas, eu terei falado exatamente o que quis falar, da maneira que quis falar.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Capacitor de fluxo?




Lutando contra o ar-condicionado o dia inteiro. Me senti no De Volta para o Futuro, indo comprar um "capacitor". Capacitor de fluxo. Não adiantou. Sorte que o calor deu uma ligeira trégua hoje.

Cheguei num ponto em que no final do dia nem me lembro do que fiz.

Fiz uns takes de guitarra. Calorzinho, umidade, me senti no Tennessee, fechei os zóio e fui rio acima e abaixo... téin... téeein éin éin....

E aí comecei a fazer backings. Muitos backings. Muitos. Aí o Gustavo Garde veio e me ajudou. E esse cara é meu parceiro de alma. Só tem uma coisa que eu goste mais do que gravar guitarras: gravar vozes.

Aí o Thadeu Meneghini veio e... téin éin éin... MAIS GUITARRAS! Ele resolveu a parada Elvis Costello para a música que eu queria.

Estou um tanto quanto excêntrico a essas alturas.

Força na peruca. Cortei o cabelo.

Backings para Meus Fones

Backings para "Meus Fones" from Mauro Motoki on Vimeo.

Backings com o Machado e Lista das músicas

Hoje eu e meu camarada Machado brincamos com alguns backings para 2 músicas: Meus fones, e Imagens do Japão. Que brisa boa, bicho!

Para mim, além do papo sempre divertido com esse queridão, o interessante foi perceber que mostrar as músicas para alguém, depois de passar tanto tempo viajando sozinho nelas, faz com que você enxergue logo de cara um milhão de novas coisas boas e ruins nos arranjos. Realmente, a simples presença de alguém mais na sala, ainda que seja um amigo em quem você confie plenamente, gera uma necessidade de reacessar e reavaliar sua confiança nos caminhos que decidiu tomar, e até mesmo nas composições. Muito bom. Tava precisando dessa reavaliação nesse estágio.

Estou montando um time de vozes dos meus sonhos, um verdadeiro Dream Team, formado só por gente que eu adoro, com suas vozes que adoro, pra me ajudar nos muitos coros e backings que estou colocando nas canções. Em breve conto tudinho, prometo!

E hoje mais cedo terminei de montar o restante dos esqueletos dos arranjos. Tem uma única música ainda sem nome, e pretendo levá-la pra um caminho magro e meio sujo, como o Elvis Costello no My Aim is True. É difícil prever isso usando baterias programadas ainda, mas espero que a direção esteja certa. Veremos.

Amanhã acordo cedo e vou cortar o cabelo. Tá começando a tampar as orelhas! :)

A lista das músicas por enquanto:

1. Um rio só cai
2. O bom mesmo é ser o mar
3. Grandes esperanças
4. Quando foi que a solidão aconteceu pra gente?
5. Meus fones
6. Imagens do Japão
7. As invasões bárbaras
8. Um ponto singular
9. [sem nome]
10. História geral

11. Aqui, era uma vez, agora
12. Ojos rojos

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Um ponto singular




Comecei uma nova. Digo, nova nova (supernova?). Um ponto singular. Eu já tinha fechado o repertório, mas brincando no piano hoje de manhã veio essa outra melodia, ela parece ter vindo de outra dimensão. Dimensão da física. Então a acolhi.

Acho que vou jogar fora Ojos rojos, que é uma das antigas que tinha resgatado. Falta essa e mais uma pra eu ter levantado o arranjo de todas. E hoje estipulei que é o dia D pra isso. De hoje não passa. Não me incomodo com a quantidade de músicas no final, desde que todas tenham um sentido no bololô. "Um sentido no bololô", estrelando Mauro Motoki.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Do you realize, Yoshimi?

Hoje trabalhei em 3 músicas, e ainda vou adiante um pouquinho.

Fiz um take melhor de voz pra As invasões bárbaras, e também gravei um violão que orrrnou. Acho que a música será isso: piano, voz, violão. Até segunda ordem.

Em seguida, gravei guitarra muito alta e muito distorcida pra dar punch e textura em O bom mesmo é ser o mar. E adicionei um Mellotron (virtual, claro). As desafinadinhas desse instrumento é que dão o toque de finesse!

E fiz um bocado de coisa para uma zero quilômetro: História geral. Essa música é uma homenagem escancarada a Flaming Lips e seu disco Yoshimi Battles the Pink Robots (acrescentei o nome Yoshimi ao nome da minha cadela por causa desse disco). Esse álbum tem um lugar à parte na minha prateleira, no meu cérebro, nos meus ouvidos. Não se encaixa em nenhuma categoria mental ou afetiva de outras coisas que escuto. E tampouco escuto qualquer outro álbum do Flaming Lips, por mais que tente.

O tema dessa letra é uma espécie de cópia, uma menção a Do You Realize - pelo menos em algumas idéias, como a felicidade que te faz chorar (veja abaixo a letra original da banda americana, e também uma cover por um grupo simpático chamado The Gentlemen of NUCO).

Do You Realize?
(Flaming Lips)

Do you realize that you have the most beautiful face?
Do you realize we're floating in space?
Do you realize that happiness makes you cry?
Do you realize that everyone you know someday will die?

And instead of saying all of your goodbyes
Let them know you realize that life goes fast
It's hard to make the good things last
You realize the sun don't go down
It's just an illusion caused by the world spinning round

Do you realize that you have the most beautiful face?



Errata

Meu querido irmão Edu me esclareceu: Imagens do Japão era um programa de variedades que ia ao ar aqui em São Paulo, apresentado por uma mulher chamada Rosa Miyake. O documentário com a trilha do Ryuichi Sakamoto chamava-se Japão: uma viagem no tempo, e foi apresentado pelo José Wilker. Minha música continua se chamando Imagens do Japão.

E se meu irmão tivesse dito que o que eu tinha lembrado torto era um Globo Repórter sobre o Tibete? "Globo Repórter sobre o Tibete" não parece um nome de música tão bonito...

O melhor da festa

Hummm. Passei muitos anos da minha vida como músico fugindo dos clichês, com sucesso ou não. Fui influenciado por outros ao meu redor a ter uma mentalidade de busca de originalidade, de não se repetir. Tudo bem, isso me serviu durante um bom tempo.

Mas sou um cara que gosta de consistência, e tem uma hora que uma coisa gerada em prol da liberdade (vou fazer o que só eu sei fazer, não vou fazer o que todo mundo faz) vira o contrário: a ditadura da novidade. De repente, você não pode mais cantar um refrão ao piano, em dó, fá e sol, porque já foi feito? E se o refrão for bom assim? Vou precisar colocar Am7, Dm6, G5+ no lugar pra fingir que está mais diferente?

Cada vez me importo menos com a maneira que os outros vão ouvir, porque afinal de contas NINGUÉM tem o controle sobre isso, e mais com a maneira que eu quero falar o que eu tenho pra falar. E essa maneira, diferentemente de anos atrás, é baseada somente no que for mais verdadeiro naquele momento, clichê ou não. A vida é cheia de clichês: ser sacaneado na escola, brigar com os pais, trair e ser traído, viajar com os amigos, bater o carro. Tem um monte de padrões se repetindo, e mesmo assim, a gente consegue cada um ter uma vida única, e irrepetível. Assim são as canções também.

Quem busca sacadinhas e novidade a todo custo - e não é pouca gente - está focando no lugar errado, e talvez perdendo o melhor da festa.

Klaus Voormann & friends

O som do baixo desse cara é minha inspiração para o som de baixo que venho tirando pra esse disco, bem setentão, meio "mole"!

Cat Stevens cantando All Things Must Pass = lagriminhas marotas

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Aqui, era uma vez, agora, mais "Wall of Sound" e temperamentalidades

Fiz uma base de violão pra essa música, mas não consegui sair disso. Tem hora que a gente tem que se render a essas temperamentalidades do estúdio. Acho que hoje não era dia dela.

Então voltei a fazer mais "Wall of Sound", dessa vez na Meus Fones, e tá ficando do caralho! Gravei um piano grave e um agudo, dobrando a mesma linha, tanto de mão esquerda quanto de direita.

Acho que vou pra casa mais cedo. Tô fazendo uns bounces (arquivos com todos os instrumentos juntos, mas sem qualquer acerto como na mixagem) só pra começar a escutar no carro e em casa, e ir tendo umas idéias pros arranjos fora do estúdio também, o que é importante. As idéias mais fora da casinha costumam acontecer, bem, fora da "casinha".

As invasões bárbaras e Grandes esperanças




Refiz a voz principal de As invasões bárbaras e acho que ficou boa. Se valer, foi o primeiro vocal que vai pro disco. Ainda há a possibilidade de usar as vozes-guia das outras, ou pelo menos parte delas.

E comecei o esqueleto de outra música, Grandes esperanças. Óbvio que tanto esse quanto o título da música do parágrafo acima foram inspirados em títulos de obras que já existem. O primeiro, um filme francês muito bom; o segundo, o livro do Dickens - mas também o filme, adaptação com o De Niro, Ethan Hawke e Gwyneth Paltrow (nesse filme tem a ótima Like a Friend, do Pulp).

Mas são só os títulos, e no caso de As invasões bárbaras, a referência é mesmo o fato histórico, as invasões de Roma, o declínio de um império, como analogia a uma relação que se desfaz. E Grandes esperanças é um título irônico, porque trata-se mais de desesperança e de descrença em qualquer coisa "grande".

Mais pra frente, quando for a hora de lapidar de vez as letras, vou publicando-as aqui.

Na Grandes esperanças comecei a gravar o meu "meio-fio de som". Sei que não vou chegar no Wall of Sound, mas já estou contente com o resultado parcial. Gravei 6 guitarras e 2 pianos e mandei todos pra uma câmara de eco virtual. Achei aqui um plugin que emula a câmara do Bill Putnam (figuraça importantíssima pra quem se interessa por produção musical e engenharia de som). Cara, quero construir uma câmara de eco aqui no 12. Espaço tem!!!

domingo, 10 de janeiro de 2010

Mais 2

Montei mais 2.

Coloquei uma base de batera programada, baixo e guitarras em O bom mesmo é ser o mar, até sentir que a textura que eu quero de guitarras já começou a se esboçar.

A letra é uma velha indagação minha, de estar sempre na encruzilhada entre o profundo e o abrangente:

• Aprofundar-se é reservar um tempo para ir a fundo no quer que seja, é focar, é um pouco esquecer de tudo que está ao redor, mesmo que momentaneamente. É quase como ir cavando um poço.

• E do lado oposto, se expandir é abrir os braços em todas ou várias direções, sob perigo de não conseguir tempo ou disposição para ir mais fundo em nenhuma das muitas possibilidades que se abrirão.

É por isso que venho tentando (assumindo humildemente a grande ambição que é isso) abrir espaço na alma para ser profundo e amplo ao mesmo tempo, como o mar. E ainda ter a superfície bonita e navegável. E ainda ter uma riqueza interna.... E ainda atrair mulheres de biquini pra perto de mim. Oooops!

Tirei uma soneca no meio da tarde e acordei com coragem de ir para a próxima. As Invasões Bárbaras é uma das que eu já tinha composto anteriormente, e resgatei do baú. Ela durante um bom tempo foi minha música favorita, aquela que eu acho que melhor compus, e que por algum motivo nunca achou seu espaço em repertório nenhum. Parece que ela estava esperando por esse disco aqui. Então o desafio tem sido buscar o frescor de quando ela tinha acabado de ser escrita, e não ter o peso da ansiedade de fazer uma performance incrível pra ela, por ser uma das que mais gosto. Gravei piano e voz. Depois apaguei a voz. Depois fiz outro take de piano, sem voz. Errei várias vezes o andamento. Tentei com e sem metrônomo. Fiz mais vozes, e as estrofes dessa música têm versos compridos, então tive que aprender a respirar entre as palavras. Ainda estou aprendendo. Deixei a última tomada de voz aberta pra escutar amanhã, porque estou ficando supercrítico a essas alturas...

Au revoir!

Controle e fluidez

Ontem ouvi Dark/Light do último do Frusciante, e fiquei pensando na questão Controle vs. Fluidez. É assim: coisas que eu admiro, como o Sky Blue Sky do Wilco, o Jukebox da Cat Power, o The Empyrean do Frusciante, têm um equilíbrio impressionante entre arranjos bem pensados e arroubos de performances espontâneas. E ambos garantem que a expressão chegue certeira, clara e profunda.

Produzir o próprio trabalho exige que eu saiba lidar com esse processo. Enquanto levanto as músicas e penso nos arranjos e os escrevo, tenho que manter o foco, e prever andamento, mapa, tom, timbres... Tudo pra deixar o terreno fértil, pra quando for a hora de gravar, eu poder ser o mais espontâneo possível, e não pensar mais em nada disso.

Vim ouvindo um greatest hits do Thin Lizzy.
Vim achando São Paulo bonita nesse domingo de sol.

Ao trabalho!

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Imagens do Japão e Kindle



Imagens do Japão
é a 4a música que levantei. Gravei violão com a técnica aprendida com o visionário Chuck, e já fiz uma basezinha e uma guia de voz. Estou realmente adorando o karaokê-style microfone Beyer, ou a Sharapova, para aqueles que fixaram a imagem dessa forma mais agradável.

O título dessa música foi inspirado num documentário que foi ao ar pela TV Manchete (quem se lembra? tu tu tu tu tuuu) na minha infância, com tema da abertura do Ryuichi Sakamoto, se não me engano e bem me lembro. Foi meu primeiro contato com um Japão que existia além dos meus avós, além das comidas e festas de família. O Japão de onde viriam inúmeros robozinhos que meus pais trariam de viagens pra lá, assim como o primeiro teclado meu e do meu irmão, um DX7 (avançadíssimo para a época e para o nosso estágio de aprendizado). Um terceiro Japão se formaria anos mais tarde, quando eu mesmo visitaria o país, que condensava as raízes cujos sinais eu via naquelas reuniões e ocasiões familiares, com o Japão moderno que hoje o mundo inteiro faz idéia do que seja, de mil luzes, tecnófilos, gadgets, idiossincracias e manias. E também com o Japão espiritual, cenário do zen budismo que é parte integrante do meu tempo nessa vida.

E falando em gadgets, estou adorando o Kindle, livro eletrônico. Sou colecionador de livros, frequentador e consumidor de livrarias, e não acho que vá parar de comprá-los, assim como não parei de comprar LPs. Mas a experiência de leitura desse aparelhinho é fenomenal. É papel eletrônico, algo com partículas de tinta, não uma tela de LED ou coisa parecida. Baixei 2 livros que também tinha em versão de papel e que estavam com a leitura meio atravancada, muito devido à dificuldade de lê-los deitado ou levá-los pra todo lado, dado o tamanho das edições. Li os dois em poucos dias pelo Kindle. Por enquanto só achei títulos interessantes em inglês, espanhol e francês, mas não demora tem um monte de títulos em português. Quem quiser, dá uma olhada na Amazon. O sistema wireless funciona legal aqui em São Paulo, embutido nas compras e no preço do aparelho. Vou aproveitar enquanto a Apple não lança sua versão e acaba com minha graça!

ps - acabo de pensar aqui que "cafundi" tudo. Talvez o nome fosse de um seriado, e a música tema de um Globo Repórter. Talvez fosse uma novela. Talvez nem fosse o Japão. hahaha

Os visionários


Ontem o Fabio Pinczowski, sem a desnecessária modéstia, disse que ele é um visionário dos microfones. E o pior é que é! Os 3 mics mais fodas e apaixonantes que a gente tem foi ele quem inventou de adquirir (sim, eu me apaixono por mics). O Royer, o Coles e o Beyer são o Michael Jordan, o Paul McCartney e o Fellini juntos, sei lá, jogando gamão. Ou melhor ainda, pra analogia ficar mais suculenta: Penelope Cruz, Françoise Hardy e Sharapova. Uuuh...

E o Chuck Hipolitho, compañero como sempre, veio aqui e DETONOU em tirar o som do violão com sua técnica ancestral. Ele é o visionário do som de violão!

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Fechando a tampa até amanhã cedo

Tive que refazer o mapa da terceira música, Quando foi que a solidão aconteceu pra gente?.
Tinha comido uns compassos que achei que valia a pena recolocar, depois de gravados piano, baixo e dobras. Ui ui ui, que burrico! Dá zero pra ele! Aí fiz uma ediçãozinha que acho que funcionou. Mas meu cérebro ficou meio neurinha...

Vou gravar a voz guia e ir pra casa, pra retomar amanhã cedinho. Prefiro as manhãs!

Cigarrinhos Pan, correio anti-plágio e Caffeine

Estou fazendo uma pausa. Se eu fosse fumante, agora era a hora do cigarrinho. E aquela história de palhinha, bom, agora não tô afim tampouco.

Tá vendo por que eu tenho saudades dos cigarrinhos Pan? Acabaram com eles, malditos politicamente corretos, quando na verdade eles me satisfizeram a curiosidade de cigarro sem eu ter que ter virado fumante, anos atrás. Deu saudade da cantina da escola, agora. Carlinhos e o cachorro-quente proibido - minha mãe não deixava.

Fui ao correio e fiz o velho truque anti-plágio. Achei que não valesse, mas um amigo executivo de gravadora (e existe isso? ha!) me garantiu que vale. Botei um CD no correio endereçado a mim mesmo com todas as composições novas, letras e melodias. Quando chegar em casa eu guardo sem abrir, e caso algum engraçadinho faça mal uso de alguma coisa, tenho esse resguardo.

Então ontem e hoje trabalhei na primeira faixa, cujo nome de trabalho é Um rio só cai. Outro dia eu comento temas e letras, se der vontade. Fiquei bem feliz com o som de violão com o tal mic Royer, e tb o do baixo que fiz com uma vibe a la Paul.

E o Fabio apareceu por aqui, e entre um papo e outro, levantei o esqueleto da Meus fones. Apesar dessas 2 músicas serem bem distintas, deu um sentimento bom de que existe uma unidade nessas composições.

Estou tentando gravar os vocais-guia o melhor possível, pra aproveitar a espontaneidade dessas primeiras vezes que canto essas melodias. Outro mic cabuloso que estreei foi o Beyer M88. Esse mic é feio que só, parece um LeSon, ou um mic do karaokê da sua tia. Mas é classicão, e até o Robertão usa há anos para voz ao vivo.



É isso, hora do café e voltar pra gravação. Caffeine!

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Primeiro Dia

As plantas aqui do 12 dólares estão vigorosas.

Hoje cheguei depois do almoço, vim ouvindo Wilco e Cat Power no caminho, praquela inspirada final. Achei uma Sprite totalmente sem gás na geladeira, safra 2009, e me resfresquei depois de passar um pano e varrer um pouco a sala.

Estou produzindo e gravando esse disco sozinho por enquanto. Minha única companhia constante, além da trepadeira que já avança pro segundo andar aqui na técnica, com folhas maciças e bojudas, será a do amigo de longa data Rafael Terpins, o Balde. Ele é fotógrafo, animador (nos dois sentidos da palavra que me ocorrem agora), lutador de kung fu como eu, e documentarista desse trabalho. Ele deve postar uma coisa ou outra aqui nesse blog também, quando desejar.

Comecei a primeira música. Amanhã, assim que terminar de garantir os direitos autorais dessas novas composições, passo a dizer aqui os nomes de trabalho delas. Ficarei mais livre pra comentar sobre letras e melodias.

À medida que fui compondo e registrando as novas canções, já fui tentando as colocar numa ordem que me agrada e faz sentido. Acho que vai ser difícil gravá-las na ordem, o mais certo é que eu acabe indo e voltando para que os arranjos cresçam mais ou menos todos juntos...

Já montei um esquema de ir levantando o esqueletão dessa primeira música de uma maneira inspirada em dois discos: Lady Soul, da Aretha Franklyn, e Dusty In Memphis, da Dusty Springfield (que aliás têm semelhanças inegáveis, e atingem polos opostos de grandes interpretações). Ainda não tive coragem de experimentar as técnicas a la "Wall Of Sound"* do Phil Spector que desejo tentar emular em alguns arranjos. Mesmo que o resultado saia totalmente distinto (muito provável), o processo será divertido à beça! 20 guitarras, 5 violões, 2 baixos, 8 naipes!!! Isso me lembra uma cena do Walk Hard, em que o Dewey Cox vira Brian Wilson na época do Good Vibrations...

E estou felizaço com a performance do Royer 121, miczão de fita que é a nova aquisição daqui do 12. Quente, baby!

*os links estão em inglês. Sempre que eu achar links interessantes em português, vou dar predileção a eles.
2010!!!

A idéia de fazer um disco solo já estava na minha cabeça há mais de um ano.

Acabo de voltar de férias muito bem aproveitadas, com 9 músicas novinhas, mais 2 resgatadas do meu baú, e muita idéia na cabeça. E hoje já entro em estúdio para começar 2010 com as gravações desse meu álbum.

Dei início a esse blog pra ir registrando e comentando tudo que eu achar que tem a ver com esse trabalho. Vou postar relatoriozinhos das gravações, mas também divagações sobre assuntos que podem tanger o universo desse disco, de maneira direta ou não.

Para seus comentários e indagações, veja "mais sobre mim" ao lado: twitter e myspace.

ps - Ludov está firme e forte, continuamos na nossa melhor fase! ;)